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Filhos deveriam ir para escola carregando consigo a educação que recebem dos pais



Matéria publicada no Jornal de Beltrão


Por Leandra Francischett e Darce Almeida (JodeB)

O objetivo da palestra para os pais não é dar receita pronta, destaca Marcelo Moya, psicanalista, sobre seu projeto nas escolas e colégios de Francisco Beltrão, envolvendo pais e professores. É um trabalho voluntário, que também pode ser desenvolvido com outros temas para empresas e entidades interessadas.

Na noite da última sexta-feira, 9, ele esteve no auditório do centro de eventos do parque de exposições e fez palestra para pais de alunos do Colégio Estadual Mário de Andrade. De acordo com Afonso Nunes Prestes, diretor auxiliar do colégio, os pais não são chamados apenas pra entrega de diplomas, mas também para participar da formação. "Vivemos num mundo agitado, em que as escolas e os pais não sabem como educar. A falta de limites interfere muito na aprendizagem." O Cema conta com quase 1.400 alunos e a maior preocupação é com as redes sociais e os jogos, o que aumenta o número de crianças depressivas, que não se relacionam com colegas e nem com professores.

"Hoje, as coisas evoluem muito rápido e nós, como pais, não estamos encontrando ferramentas para conter isso, então é importante participar desses momentos, para adquirir informações e usar no dia a dia, para manter os filhos com valores", opina Ademar Pastre, pai de aluno.

Fernando Acosta, pai de três meninas, acredita que a palestra "abriu os olhos para muita coisa que está acontecendo". Ele concluiu que os pais que não impõem limites, uma hora sofrerão as consequências. "É preciso manter a coerência de diálogo com elas e explicar por que não pode. Elas vão entender."

Para Vânia Frigotto, o encontro foi ótimo, para perceber o quanto o limite é importante para o futuro das crianças. "A internet e o jogos distraem muito, então a leitura fica um pouco de lado. Se não impor limites, eles acabam não gostando de ler", exemplifica.

Como dar limites aos filhos? "Em relação à psicanálise, adentramos no campo da subjetividade humana, nutrida de fantasias e desejos que são determinantes em nossa vida. Portanto, a proposta não visa responder à pergunta 'como' e sim 'por que' dar limites aos nossos filhos e que relação isso tem a ver no processo de desenvolvimento emocional das crianças?", comenta Marcelo.

Ele completa que é preciso considerar o contexto dos pais, munidos de sua história de vida, da maneira de como também foram educados e da construção de seus valores. "Aqui está o risco, pois o que pode ser sinônimo de sucesso para você na maneira de educar seus filhos, não necessariamente pode dar certo para mim. Por isso que no lugar de oferecer modelos prontos, pautamos por princípios." O contato de Marcelo Moya é pelo fone (46) 99982-8997.

Autoridade não se impõe, se conquista pelo exemplo

JdeB - É possível dar limites aos filhos sem ser autoritário?

Marcelo Moya: Há uma diferença entre autoridade e autoritarismo. O modo autoritário é uma demonstração de insegurança, medo e descontrole. Autoridade não se impõe, se conquista pelo exemplo de vida, firmeza nos posicionamentos e principalmente pelo amor. Não é por medo que os filhos devem se sujeitar aos pais, mas pela relação recíproca pautada pelo respeito. O problema é que os pais, principalmente os mais contemporâneos como nós, muitas vezes carregados de nossas próprias feridas narcísicas, nos angustiamos na hora de ter que assumir este sólido e necessário papel do ser pai ou ser mãe. Em lugar disso, nos 'fazemos de', e com isso, carregados de culpas e de ressentimentos, perdemos o foco no manejo com os nossos filhos, e caímos em armadilhas muito comuns neste processo de educação como a omissão ou a permissividade. Assim, estamos contribuindo para formar uma geração de filhos mimados e egoístas e, como afirmamos nas palestras, até mesmo perversos, em razão das falhas cruciais durante a constituição do caráter e da estrutura psíquica desta criança proveniente exatamente da falta de limites pontuais e adequados na vida deles.

Como os professores podem contribuir com os pais neste sentido?

Melanie Klein nos vai dizer que a primeira professora se torna uma substituta da figura materna ou uma espécie de 'mãe alternativa' na formação emocional da criança. E aqui segue minha opinião: não é responsabilidade (e nunca foi) de professor cuidar de filhos dos outros. A educação que associamos à escola é bem diferente do que estamos tratando aqui. Filhos deveriam ir para a escola carregando consigo a educação que recebem dos pais, assim como a mochila ou o lanche que trazem de casa. Mas o que vemos nos dias de hoje, é um triste cenário. Professores se queixando de problemas dos quais muitos poderiam ter sido evitados se a estrutura familiar não estivesse tão fragilizada. É aqui que defendo na palestra a importância de uma Escola de Pais, haja vista que estamos diante de uma era de pós-modernidade de transformações aceleradas cuja geração de novos pais se sentem cada vez mais impotentes e despreparados no processo de educar filhos. Na questão de limites, na escola não é diferente. Eles são necessários e nós pais precisamos respeitar isso, pois a regras do ambiente escolar também contribui para a formação de nossos pequenos.

O projeto de palestras também contempla os professores?

Pretendemos também alcançar os professores. A inspiração do título 'Professores à beira de um ataque dos nervos' veio de um filme de Pedro Almodóvar, fazendo um trocadilho. Tudo começou num projeto de pós-graduação quando eu procurei pontuar quais as possíveis contribuições da psicanálise para a educação e seus processos de ensino-aprendizagem. Em toda literatura disponível, havia sempre um espaço considerável para falar das demandas emocionais do docente. Sou filho de professora e esposo de professora, conheço bem esta realidade. Nos últimos anos, estatísticas alarmantes apontam para um número considerável de profissionais da educação estarem enfrentando sérios problemas de saúde psicoemocional muitas vezes resultado dos desgastes que a própria profissão demanda. Nesta palestra, procuramos conscientizar os professores sobre a importância do cuidado de sua saúde emocional assim como faz com sua carreira.


Jornal de Beltrão Publicação: 14-06-2017, 14:46

Matéria publicada no Jornal de Beltrão (acesso em 20/06/2017 14:37h)

http://www.jornaldebeltrao.com.br/noticia/260439/filhos-deveriam-ir-para-escola-carregando-consigo-a-educacao-que-recebem-dos-pais




























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